sábado, 23 de maio de 2009

Produção de grãos enfrenta barreiras


Edição de 19/01/2009

Paragominas - Entraves impostos pela Sema e pelo Incra atrapalham os agricultores
EDIVALDO MENDES

Correspondente em Castanhal

Os entraves burocraticos criados pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) na liberação de áreas degradadas localizadas em Paragominas e região, para a produção de grãos, já começa a mostrar seus efeitos perversos para os quase 90 produtores que há 12 anos impulsionam a agricultura no nordeste paraense, assim como para a população de um modo geral, que, cedo ou tarde, é quem vão sentir os efeitos, na outra ponta. Sem as licenças ambientais da Sema, eles não ter’ao acesso a financiamentos bancários para tocar a safra 2008/2009. Estão sendo obrigados a correr atrás de dinheiro em banco privados, com a família ou através das empresas que vendem os insumos básicos para o plantio (adubos, sementes, defensivos, etc).

Segundo informações fornecidas pelo engenheiro agrônomo Dulcimar Pensin, que atua no fomento da produção de grãos em Paragominas, apenas um grupo formado por três produtores de grãos conseguiu crédito agrícola na agência do Banco do Brasil do município. O Banco da Amazônia não liberou um centavo. Levando-se em conta que, antes das amarras da Sema, esses bancos garantiam o custeio de pelo menos 70% dos produtores, não é difícil entender a atual situação da agricultura de grãos naquela região, assim como as conseqüências que isso poderá causar diretamente na mesa do paraense.

E elas já começaram. Semana passada, os produtores anunciaram uma redução de 30% da produção de milho, que é o carro chefe da agricultura em Paragominas, Ulianópolis e Dom Eliseu, municípios que concentram quase toda a produção de grãos no nordeste paraense. Vai passar das 2.860 milhões de sacas produzidas na safra 2007/2008, para pouco mais de 1.800 milhão de sacas. O milho paraense é responsável hoje por 70% do abastecimento do setor avícola do Estado, concentrado em Santa Isabel do Pará. Com essa redução da produção em terras paraenses, os avicultores terão que comprar mais milho do Mato Grosso e de Goiás. Isso significa que o frango e os ovos podem chegar mais caros para o consumidor.

Além do engessamento na liberação das licenças ambientais na Sema, e também da Certidão do Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), uma espécie de CPF do produtor rural, cuja liberação, também difícil, compete ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), os produtores estão batendo de frente com outro sério problema, que é o aumento abusivo dos insumos agrícolas, principalmente do adubo, que teve um aumento de quase 100%. Mesmo que no final do ano o preço do adubo tenha baixado algo em torno 25%, isso em nada ajudou o produtor a reduzir custos, porque boa parte já havia adquirido adubo para dar início ao calendário agrícola, que hoje se encontra no pique da fase de plantio.

Para se produzir em um hectare de milho são necessários hoje R$ 1.800. O da soja sai por R$ 1.400 e o do arroz, R$ 1.000. Diante da carência de recursos, os produtores foram obrigados a reduzir a área de plantio de milho e plantar mais soja e arroz. Ambos tiveram suas áreas plantadas aumentadas de 12 para 16 e de 20 para 22 mil hectares, respectivamente.


CUSTO


Cálculos dos produtores indicam que, para preparar a terra e semeá-la com arroz, soja e milho, serão necessários pelo menos R$ 77,4 milhões. Uma média de R$ 1.400 por hectare. Dinheiro que cada um está correndo atrás, para conseguir cumprir seus planos de produção. 'O certo mesmo é que nós todos estamos plantando em áreas degradadas e nesses 12 anos de safra não derrubamos uma árvore sequer. Se ano passado, quando as exigências ambientais absurdas se acentuaram, já foi difícil plantar, nessa próxima safra vamos ter mais problemas e não sabemos ao certo o futuro que nos espera', lamenta Dulcimar Pensin.

Há cinco anos em Paragominas produzindo grãos, o matogrossense Michel Cambri é um dos produtores que ainda está correndo atrás de mais recursos para poder concluir o plantio nos cerca de mil hectares de terra, que ele arrendou na fazenda Morro Alto. Mas ele já decidiu reduzir de 450 para 200 hectares a área de plantio de milho. Perdi muitas semanas afastado da fazenda atrás de documentos para tentar atender a Sema e o Incra, e não deu em nada. Agora estou procurando financiamento para garantir minha sobrevivência', desabafou o produtor rural.

Descendentes de italianos que vieram para o Brasil trabalhar na agricultura, 'meu bisavô plantou no Rio Grande do Sul, o vovô no Paraná, meu pai no Mato Grosso e eu aqui no Pará', pai de duas filhas paraenses, Michel ainda se mostra otimista em relação ao futuro. 'Mas plantar na Amazônia não é fácil. E com essa crise financeira mundial, a situação pode ficar mais difícil para todo mundo, ate estourar lá na ponta, na mesa do consumidor', completa Michel Cambri.

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