terça-feira, 30 de junho de 2009

MPF cobra Santa Bárbara por 51 mil hectares de área desmatada

Empresa injeta investimento bilionário em fazendas com histórico de multas ambientais, trabalho escravo e conflitos fundiários. Nove fazendas do grupo são alvos do MPF, que cobra R$ 686,8 mi por derrubadas ilegais na Amazônia

Por Maurício Reimberg

A Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, que tem entre seus acionistas o banqueiro Daniel Dantas, está sendo processada pelo Ministério Público Federal do Pará (MPF/PA) por desmatamento ilegal de 51 mil hectares da Floresta Amazônica para a criação de gado bovino. A área total das propriedades - que contabilizam um histórico de casos de trabalho escravo e disputas fundiárias - equivale a um terço da área do município de São Paulo (SP). Os procuradores exigem indenização de R$ 686,8 milhões dos pecuaristas e frigoríficos que comercializaram rebanhos criados nas fazendas do grupo.

Ao todo, a Santa Bárbara é alvo de nove ações civis públicas, que envolvem nove fazendas espalhadas em cinco municípios no Sudeste do Pará: Vale Sereno, Santa Ana e Caracol, em Cumaru do Norte (PA); Espírito Santo e Castanhais, em Xinguara (PA); Vale do Paraíso e Rio Tigre, em Santana do Araguaia (PA); Cedro, em Marabá (PA) e Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás (PA), local do massacre que subtraiu a vida de 19 sem-terra em abril de 1996. Dessa relação, apenas a Rio Tigre possui licenciamento ambiental. Todas elas estão embargadas.

"A Santa Bárbara aparece como responsável pela maior parte do desmatamento. Verificar as grandes propriedades foi um dos focos principais do Ministério Público Federal. E, na região onde ela atua, há um desmatamento excessivo", declarou o procurador Daniel César Avelino, um dos responsáveis pelos processos, em entrevista à Repórter Brasil. O MPF/PA pede que os rebanhos sejam confiscados para garantir o pagamento das indenizações.

Impacto de grandes fazendas, como as da Santa Bárbara, foi foco do MPF/PA (Foto: Verena Glass)

Maior empresa de pecuária de corte do Brasil, a Agropecuária Santa Bárbara possui 500 mil cabeças de gado em 500 mil hectares de terra, com atuação no Pará, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. O conglomerado do agronegócio, formado em 2005, tem aproximadamente 500 fornecedores ativos no Sul do Pará - onde se localiza quase toda a sua produção -, que fornecem máquinas e equipamentos, material para os funcionários, alimentos, combustíveis, insumos agropecuários, fretes e veículos. Segundo dados da empresa, o investimento entre 2005 e 2008 girou em torno de R$ 1,5 bilhão.

Apesar dessa pujança, a iniciativa do MPF/PA expõe outras fragilidades dos negócios da megaempresa, bem como acirra a discussão sobre rentabilidade econômica e impacto socioambiental. Desde que foi criada, a Santa Bárbara coleciona punições. As nove fazendas processadas já acumulam multas de R$ 288,5 milhões por crime ambiental, somando os autos de infração lavrados em fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão federal.

A despeito das punições, Rio Tigre, Santa Ana, Caracol, Vale do Paraíso e Vale Sereno descumpriram embargo do Ibama de 2006. Em vistoria realizada no ano passado, o órgão constatou que não houve suspensão da atividade pecuária nas fazendas em questão. Na Vale Sereno, houve plantio de capim para formação de pastagens em toda a área embargada - denominada "lote 240/243". A área devastada, às margens do Rio Xingu, possui 6,5 mil hectares. Na Maria Bonita, as queimadas sem autorização fizeram desaparecer quase 30 hectares de área agropastoril: 93,3% da fazenda não tem mais cobertura vegetal.

A variedade de derrubadas irregulares coincide com episódios de infrações trabalhistas e fundiárias. Uma das situações mais críticas é a da Espírito Santo, em Xinguara (PA). Mais de 76% de sua área foi desmatada ilegalmente - 10,5 mil hectares estão sem cobertura vegetal. Segundo a fiscalização in loco feita pelo Ibama, a pecuária impediu a regeneração da vegetação nativa. A fazenda já não estava autorizada a exercer qualquer atividade.

Nessa mesma propriedade, foi registrada, em setembro de 1989, uma tentativa de assassinato. Aos 17 anos, o trabalhador rural José Pereira Ferreira foi atingido por uma bala no rosto por funcionários da Espírito Santo quando tentava escapar do trabalho escravo. À época, a fazenda pertencia a Benedito Mutran Filho. O caso ainda está em aberto, aguardando julgamento de acusados. A família Mutran é uma das mais ricas do Pará e já teve várias fazendas na "lista suja". Segundo o MPF/PA, Benedito ainda atua como dono da fazenda.

O mais recente episódio envolvendo a Espírito Santo ocorreu em abril de 2009. Conflito entre acampados e "seguranças" da Santa Bárbara deixou nove feridos a bala - oito sem-terra e um funcionário da empresa. Além disso, ação judicial do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) contesta a posse da fazenda. Segundo a denúncia, o local teria autorização para produzir castanha-do-pará, mas as terras são usadas para a criação de gado, o que contraria a legislação.

"Tal como outros inúmeros castanhais do Pará, as propriedades (adquiridas pela Santa Bárbara) exploram pecuária há várias décadas. E isso é legal, por extinção do aforamento (termo jurídico que designa terras cedidas pelo Estado para colonização e produção extrativista), há mais de meio século", alega a Agropecuária Santa Bárbara, em nota oficial enviada à Repórter Brasil. "Antes do julgamento da ação civil pública pelo Judiciário, o Estado não tem o direito de afirmar que a terra é pública", argumenta a representação da empresa.

Apesar do impasse fundiário, dos violentos conflitos e do passivo ambiental - na Amazônia Legal, as propriedades rurais devem preservar 80% da área a título de Reserva Legal -, a Fazenda Espírito Santo conseguiu vender grandes quantidades de gado bovino para grandes frigoríficos como Bertin e Redenção. As Guias de Trânsito Animal (GTA) mostram que as transações comerciais de gado foram feitas em nome da Agropecuária Santa Bárbara.

Escravidão
A coincidência geográfica e econômica que une desmatamento e trabalho escravo também aparece na Santa Ana e na Rio Tigre. As fazendas tiveram que desembolsar R$ 532,7 mil, ao todo, em indenizações emitidas em decorrência de fiscalizações de trabalho escravo. Os flagrantes ocorreram antes da aquisição da área pela Santa Bárbara. A Rio Tigre, porém, permanece na "lista suja", cadastro de empregadores que exploraram mão-de-obra escrava. Questionada sobre a punição, a Santa Bárbara disse que não é proprietária da fazenda. Segundo a empresa, o local era apenas arrendado e o contrato foi encerrado em abril deste ano, sem possibilidade de renovação.

Rosenval Alves dos Santos, proprietário da Rio Tigre, em Santana do Araguaia (PA), aparece na "lista suja" do MTE. Em junho de 2004, o grupo móvel libertou 78 trabalhadores no local. A ação foi motivada por denúncias de maus-tratos e cerceamento da liberdade. Rosenval foi incluído ainda em outra lista: a relação dos 100 maiores devastadores da floresta do Ministério do Meio Ambiente (MMA), divulgada no início de 2008. No processo movido pelo MPF, a Santa Bárbara foi autuada como "arrendatária" da fazenda. 

Em fevereiro de 2003, o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encontrou 99 trabalhadores escravos na Santa Ana, em Cumaru do Norte (PA). Na época, o local pertencia ao deputado federal Augusto César Farias (PTB-AL), irmão de Paulo César Farias - tesoureiro da campanha de Fernando Collor à presidência - e à sua irmã, Eleuza Farias Leôncio. 

Após a inspeção, os dois chegaram a ser presos, mas saíram logo da cadeia mediante um habeas corpus. Augusto Farias, sua irmã e mais cinco envolvidos no episódio respondem a processos pelos crimes de redução de pessoas a condição análoga à de escravo, contra a liberdade individual, frustração de direitos trabalhistas e sonegação de contribuição previdenciária. Além disso, a Santa Ana Agropecuária e Industrial, que controlava a fazenda e é ré na ação do MPF, também está na lista dos maiores desmatadores do MMA.

Após o episódio, a fazenda foi adquirida pela Santa Bárbara. A mudança na administração não foi suficiente para interromper as infrações. Segundo fiscais do Ibama, a propriedade está intensificando as derrubadas irregulares. Em 2006, não havia cobertura vegetal em 870 hectares da Santa Ana. Esse índice saltou para mais de três mil hectares no ano passado.

Segundo dados da Secretaria de Fiscalização do Trabalho (SIT), do MTE, em 2008 o Pará teve o maior número de operações para a erradicação do trabalho escravo (35), liderou o ranking de fazendas fiscalizadas (83), e ocupou o segundo lugar no índice de trabalhadores libertados (811), atrás apenas de Goiás (867). O Estado também é recordista em pagamento de indenizações por descumprimentos da legislação trabalhista (R$ 2,1 milhões).

No ano passado, a atividade pecuária ficou em segundo lugar no ranking do número de libertados por atividade econômica (1.029). De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), só houve mais libertações nas lavouras de cana-de-açúcar (2.553). A diferença de volume se deve ao fato de a colheita da cana utilizar força de trabalho intensiva. Considerando o número de propriedades que foram palco de libertações, a pecuária bovina ocupa o primeiro lugar. Nas fazendas de gado, quando há prática da escravidão, os relatórios de fiscalização do MTE apontam grupos menores e condições de trabalho extremamente graves.

"Perseguições"
Em comunicado oficial, a Santa Bárbara, que já recorreu das ações, alega que cumpre a legislação ambiental "com rigor e responsabilidade" e atribui os processos judiciais às supostas "perseguições políticas". "Todas as propriedades operadas pela companhia mantêm hoje igual ou maior cobertura florestal do que quando foram adquiridas a partir de 2005", afirma a nota. A empresa diz cumprir a Norma Regulamentadora (NR) 31, que trata do trabalho rural.

Pela lei, quem compra uma área desmatada assume o ônus de manter a preservação e a reposição da reserva legal, mesmo que não tenha contribuído para devastá-la. Contudo, o grupo sustenta que "não se pode imputar à Santa Bárbara os passivos fundiários que possam recair sobre as propriedades". "Há possibilidade de as áreas exploradas pela pecuária e agricultura terem passivo ambiental", admite a empresa à Repórter Brasil.

A empresa do agronegócio afirma que nunca sofreu condenação ambiental e diz que se opõe "àqueles que se aliam na defesa dos mercados concorrentes contra o baixo custo de produção da carne brasileira". A Santa Bárbara nega ainda que mantenha ligação com Verônica Dantas, irmã de Daniel. As ações do MPF contra a empresa citam nominalmente Verônica, Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Dantas, e Rodrigo Otavio de Paula.

Símbolo das relações conflituosas entre interesses públicos e negócios privados nas últimas décadas, o banqueiro Daniel Dantas impulsionou os seus negócios ao longo de três governos (Collor, FHC e Lula). Fundador do grupo Opportunity em 1994, ele foi o alvo principal da Operação Satiagraha da Polícia Federal, deflagrada em julho do ano passado, e indiciado sob acusação de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, sonegação e evasão de divisas. Ele chegou a ser preso em julho de 2008.

Acossado por denúncias de corrupção, uma das mais recentes apostas do banqueiro é o setor da pecuária. A Santa Bárbara, uma sociedade anônima, segue uma tendência de entrada de grandes grupos financeiros que estão investindo em produção de gado na Amazônia. Formalmente, o banqueiro não tem "função executiva" na empresa. No entanto, a Polícia Federal suspeita que as atividades agropecuárias de Daniel Dantas tenham sido usadas para lavar dinheiro do grupo, que nega a acusação.

Apesar de não ter tradição no segmento, o número de bois pastando nas terras da empresa "cresce alucinadamente". É o que atesta o estudo "Conexões Sustentáveis São Paulo - Amazônia: Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?", elaborado por jornalistas da ONG Repórter Brasil e da Papel Social Comunicação, e divulgado em outubro do ano passado. O relatório cita que, apenas entre 2006 e 2007, o incremento no rebanho foi de 365%.

Cadeia produtiva
O processo contra a Santa Bárbara, ligada a Daniel Dantas, faz parte de um pacote de 21 ações ajuizadas pelo MPF no início de junho, numa tentativa de desmantelar os elos da cadeia produtiva da pecuária, maior vetor de desmatamento na Amazônia e principal fonte de emissões de gases do efeito-estufa do Brasil. "A idéia é ligar o lado social ao ambiental, porque de fato há uma correspondência entre trabalho escravo, invasão de terra indígena e a questão ambiental", diz o procurador Daniel César Avelino.

Baseada em pesquisa nos registros de compra e venda de bois, nas fiscalizações do Ibama e em estudos realizados por diferentes organizações, como as ONGs Greenpeace e Amigos da Terra, a Procuradoria da República no Pará processou 21 fazendas e 13 frigoríficos e curtumes da região. Ao todo, as indenizações totalizam R$ 2,1 bilhões e a área devastada atinge quase 160 mil hectares.

A Procuradoria também notificou 69 empresas que adquiriram insumos produzidos de forma ilegal. A relação inclui as maiores redes varejistas do país - como Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart -, além de grandes indústrias, atacadistas e empresas de serviços, como a Coteminas e Vulcabras, dona das marcas Reebok, Olympikus e Azaléia. Caso não adotem um sistema de controle dos seus fornecedores, todas serão denunciadas por "responsabilidade solidária e objetiva" com os ilícitos ambientais.

Segundo o Greenpeace, que divulgou o levantamento "A Farra do Boi na Amazônia", a cadeia produtiva do "consumo cego", que absorve o gado "pirata" da floresta, se estende até a Europa, a Ásia e a América do Norte. O couro, por exemplo, vira calçados, tênis, roupas, mochilas e assentos de automóveis no exterior. Atualmente o Brasil possui o maior rebanho comercial do planeta e é o maior exportador mundial de carne.

O Bertin, um dos maiores frigoríficos do país, possui quatro unidades no Pará. Entre as suas principais fornecedoras está a Agropecuária Santa Bárbara. Segundo o MPF, o frigorífico fez compras de gado recentes na Espírito Santo, Vale Sereno, Cedro, Maria Bonita e Santa Ana. O frigorífico também negociava gado criado em Terra Indígena (TI), protegida pela lei e demarcada na região de São Félix do Xingu (PA). Neste mês, a IFC, ligada ao Banco Mundial, cancelou a parceria que tinha com o Bertin desde 2007.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que detém participação no capital do Bertin e em vários outros frigoríficos, diz estar em "tratativas com o setor para aumentar o controle da cadeia de fornecedores". Sem especificar quais medidas deveriam ser adotadas, o banco alega que os ajustes "vão além das regras já existentes e cumpridas de não conceder financiamento a empresas que desrespeitem o meio ambiente e que adotem trabalho escravo e mão-de-obra infantil".

Boicote 
Até o momento, 31 empresas acataram a recomendação do MPF e anunciaram a suspensão das compras dos frigoríficos e fazendas envolvidos com desmatamento no Pará. A lista inclui os maiores varejistas do país, como Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart, além da Vicunha Têxtil, Vulcabrás, Ypê, Sadia e Gelita do Brasil. Quatro empresas (Nordeste, GR, Formosa e Rousselot) pediram prorrogação do prazo para tomar as providências necessárias. O período estabelecido para o recebimento das respostas termina nesta semana.

"(Com o fim do prazo) a empresa vai passar a ser responsável por qualquer compra que ela efetuar", alerta o procurador Daniel Avelino. "Nosso principal objetivo é barrar o desmatamento e permitir que a economia cresça de forma mais sustentável", declara. No entanto, as empresas BBA, Makro, Comcarne e Seara argumentaram que já exigem selos de inspeção federal e notas fiscais ao comprarem produtos dos frigoríficos processados. Elas consideram suficientes as garantias existentes.

Em nota encaminhada ao MPF/PA, o Grupo Pão de Açúcar, maior rede varejista do país, afirma que recebeu com "grande surpresa" a notificação, e que reforça seu repúdio a qualquer ato praticado em desacordo com a legislação em vigor. O grupo solicitou aos frigoríficos de que apresentem ao MPF um plano de auditoria socioambiental que comprove a origem do gado a ser comercializado.

Diante dos interesses econômicos dos pecuaristas e das indústrias ligadas à carne e ao couro, o procurador Daniel César Avelino afirma que é fundamental dar mais esclarecimento ao consumidor sobre a procedência da carne, no intuito de superar o alto nível de impunidade dos crimes ambientais e a ausência do poder público. "A questão do controle do consumidor tira a dependência da Justiça", acredita. Segundo o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), apenas 14% dos infratores que cometem crimes em áreas protegidas no Pará são punidos.

Recusa
A tentativa de acordo entre o MPF e os frigoríficos esbarrou um impasse. Segundo a Procuradoria da República no Pará, a União das Indústrias Exportadoras de Carne (Uniec) se recusa a se comprometer com datas, prazos ou sistemas de controle. Os procuradores enviaram nesta quinta-feira (25) uma resposta ao documento elaborado pela Uniec que, segundo o MPF, não traz garantia consistente de busca pela legalidade e sustentabilidade do setor pecuário no Pará.

O MPF tinha apresentado ao setor uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), sob a mediação do governo do Pará. Entre as condições básicas para um entendimento, estava o licenciamento ambiental a médio prazo, georreferenciamento das fazendas, regularização fundiária, recomposição das áreas degradadas e rastreabilidade da carne.

Atualmente, nenhum frigorífico implementa um processo para verificação da origem legal do rebanho que os abastece. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que criticou a ação do MPF, defende que o setor adote um "código de conduta" contra o abate e o processamento de gados do desmatamento.

Para tentar frear o processo de destruição causado pela expansão desordenada da pecuária, que impulsiona o surgimento de áreas degradadas, solos empobrecidos, grilagem de áreas públicas e demanda cada vez mais terras, o Ministério Público Federal pretende agora expandir as medidas de verificação da cadeia produtiva para outros estados da Amazônia Legal. As pastagens para a criação extensiva do gado são responsáveis por cerca de 80% dos desmates na Amazônia Legal.

http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1603




quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pará proíbe o plantio de soja por dois meses

De 15 de julho a 15 de setembro, as microrregiões de Conceição do Araguaia, Redenção, Itaituba, Marabá e Altamira estão proibidas de plantar soja. A vedação do plantio se estende de 1º de outubro a 30 de novembro às microrregiões de Santarém, Altamira, Paragominas, Bragança e Guamá. Em todas as regiões citadas, nos respectivos períodos em que o plantio estará proibido, é obrigatório também o extermínio de plantas que tenham nascido voluntariamente - na queda dos grãos em terrenos durante o transporte.

A moratória para o plantio de soja integra o conjunto de medidas adotadas pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) para o combate à ferrugem asiática, uma praga que ataca a soja e pode causar terríveis prejuízos à plantação. O rápido amarelecimento da planta, com queda das folhas, causa perdas de 30% a 75% da produção. Atendendo à Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Adepará instituiu o Comitê Estadual de Controle da Ferrugem Asiática da Soja, cuja responsabilidade é planejar, executar e fiscalizar o vazio sanitário da soja no Estado - uma prática que impede o plantio de soja por determinados períodos, de acordo com as peculiaridades de cada microrregião paraense, no intuito de evitar a contaminação da ferrugem asiática nas plantações do território do Estado.

Amparada no Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), a moratória da soja busca o fortalecimento do sistema da produção agrícola do grão no Pará e manutenção da arrecadação de impostos decorrentes desta produção. (Agência Pará)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A Ferrugem Asiática da Soja no Estado do Pará, Safras de 2003/2004 e 2004/2005

ACESSE AQUI

Soja BRS candeia: comportamento e recomendação para plantio nas microrregiões de Paragominas e Santarém, PA.

BRS Tracajá cultivar de soja para a região Sul do Pará

Recomendação de Cultivares de Soja para a Microrregião de Paragominas, Pará

A Mela da Soja no Estado do Pará

O Pólo de Paragominas é formado pelos municípios situados ao longo da Rodovia Belém-Brasília, a partir de São Miguel do Guamá, até Dom Eliseu, cobrindo uma extensão de 250 quilômetros. As áreas que compõem este pólo, em torno de 5,37 milhões de hectares, vêm sendo utilizadas, nos últimos 40 anos, para criação de gado de corte e exploração madeireira, bases da economia da região (SINDISERPA, 200-?). O relevo é suave a fortemente ondulado e os solos são classificados, em sua maioria, no grupo Latossolo Amarelo, textura argilosa a muito argilosa, com boas propriedades físicas e baixa fertilidade natural. As pastagens cultivadas são estimadas em dois milhões de hectares e as áreas passíveis de exploração madeireira estão cada vez mais afastadas.
Aproximadamente 500 mil hectares de pastagens degradadas em solos suavemente ondulado são propícios à produção de grãos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Primeiro trator 8430 vendido no Pará é entregue em Ulianópolis



O primeiro trator 8430 vendido no estado do Pará foi entregue no dia 29 de agosto ao empresário Davi Resende Soares, no município de Ulianópolis. O comprador é cliente da Agrinorte, concessionário John Deere em Paragominas. O trator 8430 tem motor de 310 cv, sendo o modelo de maior potência da John Deere comercializado no Brasil.

A entrega técnica foi realizada com a presença do filho de Davi Resende, Lindomar Resende, que já possui 14 tratores John Deere, além de uma plantadeira 9200 e uma colheitadeira 1550. A entrega do equipamento contou com a presença do coordenador de vendas da John Deere Luiz Henrique Medeiros, o gerente de Peças da Agrinorte José Carlos, o gerente de Serviços Jorge Marcelo Felten e o CEN Bruno Fernandes.

http://www.deere.com.br/pt_BR/ag/news/2007/09/news_04_09_07_iii.html

Produtores do Pará também participam do Tratoraço

http://www.cna.org.br/site/noticia.php?n=6373

As principais reivindicações dos produtores paraenses que participam do Tratoraço - o Alerta do Campo são a regularização fundiária das propriedades rurais do Estado e a comercialização da safra, já que os estoques de milho e arroz estão muito altos, segundo o diretor da Federação da Agricultura do Estado do Pará (FAEPA) e presidente da comissão organizadora do tratoraço no Pará, Agamenon Menezes. Ele explica que 60% das propriedades rurais do Pará não têm titulação porque há mais de 20 anos o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não regulariza áreas maiores de 100 hectares. "Sem a regularização, o produtor rural não consegue financiamento do crédito rural para a safra e isso agrava a situação".

O principal problema para os produtores de arroz, de acordo com o representante do Sindicato Rural de Santarém (Sirsan), Luiz Assunção, é a concorrência predatória do produto importado do Suriname, com preço de venda de R$ 20,00, abaixo do custo de produção local, de R$ 23,00 a saca. Já com o milho, o problema é a concorrência interna de alguns estados do Nordeste, incentivada pelo próprio governo. Agamenon Menezes diz que, em Paragominas, por exemplo, há um estoque de 600 mil toneladas, sem preço de comercialização. "E sem comercializar a produção, não há como comprar os insumos necessários para a próxima safra".

O presidente da comissão organizadora estadual do Tratoraço disse que a comitiva dos produtores paraenses em Brasília conta com 70 produtores. A exemplo de outros estados do País, os produtores do Pará também defendem medidas como o seguro agrícola, defesa sanitária e melhoria da infra-estrutura. "Nós precisamos melhorar muito a situação das nossas rodovias. Também precisamos ampliar e tornar operacionalmente mais eficiente o nosso sistema portuário".

http://www.sober.org.br/palestra/9/728.pdf

http://www.direito2.com.br/asen/2005/jun/28/liderancas-do-tratoraco-participarao-de-audiencia-publica

http://www.sulrural.com.br/pdf/2005-07-08e09.pdf

CEM ANOS DE DEVASTAÇÃO



Cem anos de devastação: revisitada 30 anos depois/Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas: Mauro Antônio Moraes Victor... [et al.]. – Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2005.72 p, 23 cm.
1. Floresta Tropical. 2. Impacto ambiental. 3. Desmatamento.
I. Victor, Mauro Antônio Moraes. II. Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. III. Série.

http://www.fepaf.org.br/DownCount_Default.aspx?arq=165

terça-feira, 16 de junho de 2009

Chuvas causam prejuízo de 40% na safra de grãos do Pará



BELÉM - O excesso de chuvas no Pará nos últimos dois meses causará prejuízo de até 40% na colheita da safra de grãos deste ano, como arroz, feijão, milho e soja. A estimativa é dos grandes produtores paraenses e especialistas da Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri). De acordo com eles, o percentual de perda será maior nas áreas onde a colheita é realizada mecanicamente. As informações são do Portal ORM.

Segundo o gerente de Grãos e Tubérculos da secretaria, Ribamar Nogueira, são os produtores que utilizam máquinas para colher a produção que terão os maiores prejuízos. Isso porque, segundo o gerente, o excesso de chuvas prejudicou o solo das lavouras e agora é impossível utilizar o maquinário para a colheita com o solo em condições arriscadas.

Ribamar ressalta que os pequenos produtores não terão tantos prejuízos quanto os grandes agricultores. No entanto, a perda será para todos.

- Os que fazem a colheita manualmente não terão tantos prejuízos, mas todos vão acabar sentindo a perda- , diz Nogueira em entrevista do Portal ORM, acrescentando que a colheita foi programada para os meses de maio e junho por conta, principalmente, da pouca chuva que cai no Estado neste período.

O gerente regional da Sagri em Paragominas, Cláudio Oliveira, afirma que mais de 50 grandes produtores do município tiveram sua produção afetada pelo excesso de chuvas. Segundo ele, este tipo de prejuízo nunca tinha acontecido antes. 'Sempre temos uma margem de perda, mas não é nada muito grande. É a primeira vez que o prejuízo acontece por conta da chuva', lamenta Oliveira.

Os problemas climáticos não afetaram apenas a produção paraense de grãos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2008/2009 deverá ficar em torno de 134,1 milhões de toneladas, o que representa uma perda de quase 10 milhões de toneladas em todo o País.

Fonte: Com informações do Portal ORM - AL

Uma nova fase da pecuária brasileira


http://www.amazonia.org.br/arquivos/259381.pdf

http://www.amazonia.org.br/arquivos/313478.pdf

http://www.greenpeace.org.br/gado/FARRAweb.pdf

http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/gado

sábado, 13 de junho de 2009

Origem dos Murundus: uma questão em aberto!

Os Murundus são geoformas (formas do terreno ou unidades do relevo) encontradas em diversas áreas do território brasileiro, bem como na África (sabendo-se que os da África possuem dimensões muito maiores). Segundo o Dicionário Aurélio, murundu significa montículo, morrote, outeiro. Trata-se de pequenas elevações do terreno, cujo formato tem a semelhança de uma seção esférica ou meia laranja, com variada convexidade, cujas configurações podem variar de arredondadas a elípticas. Geralmente não passam de três metros de altura. A maioria possui menos de dois metros. Segundo alguns autores, sua base pode atingir até 15 metros de diâmetro. Ocorrem de forma abundante em determinadas áreas, formando campos de murundus.

Para quem nunca viu, ou notou, um ambiente desses, o aspecto da área é semelhante àquele que se tem quando se observa à distância uma área de aterros, comuns nas obras de engenharia civil, em que os caminhões depositam suas cargas em uma sequência de vários montículos de terra. A imagem é mais ou menos essa.

A gênese dos murundus é um objeto de discussão na Ciência do Solo, pois ainda não há um consenso a esse respeito. Simplificadamente, a questão é a seguinte:

Alguns autores defendem a origem predominantemente geomorfológica dos murundus, portanto seriam relevos residuais, ou seja, a dissecação (erosão) diferencial do terreno seria a sua principal causa. A erosão diferencial, em linhas gerais, é aquela que, em uma unidade de área, remove preferencialmente determinadas seções da superfície de forma mais acentuada, deixando outras para trás. Ou seja, rebaixa o nível do terreno de forma desigual, deixando alguns "núcleos" que formam os morros da paisagem que vemos.

Outros autores defendem a origem biológica, que seria promovida pela mesofauna, principalmente pelos térmitas (cupins), de forma geralmente cumulativa, um ninho sobre o outro, com alguma contribuição indireta da fauna de predadores desses organismos. Assim, os montículos seriam ninhos abandonados (fósseis) de térmitas, bem como grandes termiteiros ainda ativos que podem ser observados em alguns casos. Ambos oferecendo alguma resistência aos processos erosivos de superfície.

Os defensores da origem geomorfológica argumentam que, em algumas áreas, principalmente nas vertentes de vales, não existem evidências de ação da mesofauna, como canais ou restos da estrutura dos ninhos de térmitas. A morfologia interna dos montículos em tais áreas se assemelha àquela dos Latossolos. Além disso, os murundus tendem a ter uma concordância de topos, isto significa que suas partes mais elevadas têm alturas mais ou menos concordantes, sugerindo uma superfície regular que sofreu erosão diferencial.

Os defensores da origem biológica argumentam que, em muitos casos, principalmente em depressões fechadas, existem evidências da ação biológica da mesofauna, justamente canais e restos da estrutura de termiteiros. O interior desses murundus apresenta uma organização estrutural característica dos ninhos de térmitas. Além do fato de que podemos encontrar montículos com termiteiros ainda ativos. Tais autores apontam, entre outros argumentos contrários à origem geomorfológica, que sob uma dinâmica de erosão diferencial tais elevações deveriam ser, preferencialmente, mais alongadas no sentido da declividade do terreno e aqueles murundus das partes mais elevadas deveriam ser menores do que os das cotas mais baixas, o que não parece ser o caso, principalmente o fato de que a hipótese geomorfológica não explica a ocorrência de murundus em depressões fechadas.

Até prova em contrário, parece-me mais plausível a origem biológica. Pois, mesmo naqueles casos em que não há evidências da ação biológica, onde a estrutura interna dos murundus assemelha-se à dos Latossolos, acredito que não podemos descartar a ação dos térmitas. Neste caso, a ausência de evidência não implica necessariamente em evidência de ausência. O ambiente, favorável à gênese dos Latossolos, pode ter favorecido a latolização daquela unidade do relevo "apagando" as evidências da ação biológica. Neste sentido, seria interessante datar as diversas áreas, observar se há diferenças de idade geológica, diferenças paleoclimáticas, diferenças ou semelhanças na micromorfologia e outras razões que poderiam promover a evolução diferencial de pedogênese entre elas, ou seja, fazendo com que em alguns murundus, mais envelhecidos, não existam mais vestígios da ação biológica. É apenas uma especulação.

Aos interessados, isso dá uma boa tese de doutorado. Embora já existam alguns trabalhos tratando do assunto, a dúvida ainda persiste.

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segunda-feira, 1 de junho de 2009